Primeiro documentário do cineasta Heitor Dhalia, On Yoga – Arquitetura da paz conta a história dos dez anos em que o fotógrafo Michael O’Neill passou clicando grandes mestres da ioga, resultando no livro de mesmo nome. Previsto para chegar aos cinemas em meados deste mês e idealizado com o objetivo de colocar as questões humanas a partir da perspectiva atual e misturá-la com elementos de movimento e som experimental, o projeto resultou em uma nova visão desse conceito indiano, presente há mais de 5 mil anos. Percorrendo juntos a Índia e Nova York, Dhalia e O’Neill trazem ao público importantes discussões filosóficas sobre o momento em que estamos vivendo. A seguir, o cineasta releva como essa experiência profissional o transformou.



O que mais te tocou ao fazer esse documentário em torno do livro de Michael O’Neill? Durante minha passagem por um festival religioso famoso em Rishikesh, na Índia, encontrei um guru jamaicano chamado Mooji. Cerca de 2 mil pessoas foram ao festival para ouvi-lo. Fizemos uma fila, e ele começou a cumprimentar um a um. Quando chegou minha vez, ele me deu um abraço e senti uma energia muito forte. Fiquei impressionado com o grau de felicidade daquelas pessoas, que deixaram tudo para trás para seguir o cara. É uma perspectiva de vida completamente diferente.

Mas travar esse tipo de contato deve ter transformado algo em sua vida então, certo?
Venho de uma tradição ocidental cética. Todos os autores que gosto são céticos, pessimistas e corrosivos, mas essa viagem à Índia foi especial. Me fez refletir sobre outra possibilidade de compreensão da vida. Vivenciei coisas inexplicáveis. Conheci pessoas maravilhosas e muito elevadas espiritualmente, que com a prática da ioga se doam ao próximo. Como a Gurmukh Kaur Khalsa, líder da kundalini, uma das linhas da ioga, e que tem um orfanato na Índia. Isso tem a ver com o bhakti [uma das três doutrinas do hinduísmo], que é a devoção. É você se colocar a serviço do outro. E isso é inspirador. Aliás, antes desse projeto, eu nunca tinha praticado ioga ou pesquisado sobre ela. Após essa experiência com o documentário e minha estadia na Índia, passei a praticar e mudei bastante meu jeito de ver o mundo. Hoje, quando estou angustiado por questões banais, tenho um ponto de inflexão. Aristóteles diz que o sentido da vida é a transformação, e entendi que a ioga te prepara para esse momento.

Um momento para construirmos um mundo melhor para viver?
Se quisermos melhorar o mundo, temos de abandonar a busca incessante pelo poder, pelo acúmulo e entrar em uma era em que o ego não seja prioridade. A ioga é uma prática de mais generosidade com você mesmo e com o outro. Ela te coloca em um estado de bem-estar muito grande, de atenção e presença. O mundo é tão cheio de distrações, e essa prática ajuda a te colocar inteiro, no momento presente, e acessar um lugar mais profundo da existência. Segundo a Gurmukh, se o mundo for salvo um dia, será pelo caminho da ioga e da meditação.