Quando passava um tempo na casa de um amigo na Holanda, a fotógrafa Andressa Cerqueira Casado, de São Caetano do Sul, pediu para retratá-lo, mas ele ficou confuso e envergonhado quando ela disse que queria clicá-lo sem roupa. “Aquele desconforto me fez pensar em como a intimidade pode ser relativa e efêmera”, conta ela, que teve a ideia para o projeto Intimidade miojo a partir desse ensaio despretensioso. “A casa dele é muito particular, então tive de produzir tudo no pouco tempo que fiquei por lá. A parte de captação das imagens foi feita em apenas dois dias.”

Dividido em três partes, o livro conta a história da relação de uma noite só entre duas pessoas: a autora e um homem. A primeira traz fotos do homem bastante desconfortável em sua casa. Já a segunda acontece quando ele vai dormir e a mulher decide, em seu caminho para beber água antes de ir para cama, fotografar objetos que, de alguma forma, dizem algo sobre ele. A terceira parte é a manhã seguinte. Ele sai para trabalhar e fala para ela ficar à vontade. É aí que ela posa pelada em todos os lugares que antes fotografou, demonstrando conforto e abertura nessa nova relação, bem ao contrário do parceiro. “Na história, é notável a grande distância entre as personagens, e achei que não fazia sentido eles ficarem juntos na edição, então dividi a parte dele e a parte dela, inserindo o ambiente [e muito silêncio] entre eles.”

Com o livro em fase de captação financeira para a impressão, Andressa, sob o heterônimo de Sam Terri, pretende lançá-lo em outubro próximo. Sua intenção com o projeto é jogar luz na relação entre duas pessoas em um mundo com redes sociais e aplicativos de paquera. “Sinto muito uma intimidade fácil e rápida acontecendo constantemente, e nem sempre ela tem qualidade, até porque nem sempre as pessoas estão procurando isso. Às vezes, a intimidade vem para saciar uma fome, por isso a comparação com miojo.”